segunda-feira, 23 de maio de 2016

Capítulo 3 do livro “História das Ideias Socialistas no Brasil”, de Leandro Konder

Uma das resenhas apresentadas no

"Tópico de Esquerdas no Brasil"

Prof. Ricardo Castro/IFCS-UFRJ

“Os anarquistas brasileiros”

O autor ressalta o período da Primeira Guerra Mundial como ponto-chave de uma transformação que ocorre dentro do Brasil. A economia sofre um abalo considerável na exportação de café e no emprego de uma forma geral. A partir desse momento, surgem revoltas de operários brasileiros, devido a diversos tipos de reivindicação, sobretudo salarial. Outros setores revelam seus pedidos de forma mais intensa e assim se percebe o movimento feminista; famílias em que o chefe trabalha em condições anormais, novas camadas políticas, inclusive projetos de partidos e, para se chegar ao ponto que o autor deseja, os anarquistas.

Com o crescimento do movimento operário, surgiu também a necessidade de se formar um partido que defendesse essas ideias. No entanto, as dificuldades para se chegar a um estabelecimento de ordens fizeram com que dúvidas pairassem, como, por exemplo, a viabilidade de realmente se participar de uma vida política e partidária. No momento, os anarquistas tinham prestígio e sabiam como liderar e combater com seus ideais. O respeito, porém, não fez com eles se aproximassem do movimento operário.

Chegavam ao País os ideais oriundos da Revolução Russa e da tomada de poder pelos comunistas, além de eventos marcados pelas atitudes de Lênin. Mas não estava bem definido o que se defendia e as notícias que chegavam não tinham definições plausíveis. Sabia-se, mais tarde, por meio de um clareamento maior da visão política, que concepções socialistas russas não iam de encontro com as concepções brasileiras. 

Politicamente, e comparando com a Argentina, que já possuía um partido comunista em 1918, o Brasil começa a ter um Partido Socialista por meio de discussões de ex-anarquistas, que naquele momento revia suas posições. Dentre os nomes importantes de anarquistas que ajudaram a construir uma identidade e ao mesmo tempo uma consistência política ao comunismo e à prática política, de fato, destaca-se o de Astrojildo Pereira. 

Com a formação política acontecendo aos poucos no cenário em questão, e em decorrência desse processo, surge o PCB em março de 1922. Quatro meses depois, acontece no Rio a “marcha dos 18 do Forte” de Copacabana, decorrendo na prisão de Hermes da Fonseca. Isso foi o ponto de partida para o desencadeamento de uma crise política na época. Mais tarde, a confusão ideológica que houve no País foi motivo de certo constrangimento entre os comunistas brasileiros, que já tinham comunicação direta com a União Soviética, sobretudo por parte dos intelectuais. Para uma melhor interpretação da realidade brasileira, propôs o marxismo-leninismo a tratar desse assunto, por meio de seus representantes-membros do PCB.

Essa nova e aprimorada interpretação criticava os “pólos imperialistas” os quais, segundo Octavio Brandão - alagoano que chegou a mostrar seu pensamento e que define sutilmente essa crítica - incluía aqueles que eram voltados para os Estados Unidos, destacando-se o Barão do Rio Branco; e aqueles voltados ao imperialismo inglês, destacando a pessoa de Rui Barbosa. Mais adiante, a Revolução de 30 liderada por Luiz Carlos Prestes ajudou a desmanchar a atual situação de controle oligárquico que permanecia no cenário político, embora o caráter da Coluna não fosse socialista.

Na década de 30, com o surgimento do Stalinismo e do Trotskismo, os trabalhadores assalariados dividiram-se em termos ideológicos. Uma parte considerável viu-se mobilizada e sensível pelos ideais e pelos feitos de Getúlio Vargas, muitos também socialistas ou simpatizantes do socialismo. Outros viam a política do presidente gaúcho como paternalista. 

No campo dos debates ocorridos após esse momento, o stalinismo, por um lado, fadou em simplesmente seguir o cumprimento das tarefas e diminuir a reflexão e a crítica. A discussão política dentro dos partidos comunistas não tinha vez de se expor. Os trotskistas, por outro lado, defendiam ideais diferentes e se viam como principais críticos a essa vertente que, de modo geral, utilizava a doutrina codificada do marxismo-leninismo, exposta em manuais para se chegar à concentração de poderes, no campo teórico e no político. Essa disputa e esse debate permaneceram na política por um tempo, a ponto de o Partido Comunista obter como direção os stalinistas.