sábado, 26 de março de 2016

CARR, EH. Vinte anos de crise, 1919-1939: uma introdução ao estudo das relações internacionais. Editora Universidade de Brasília, 2002 - Imprensa Oficial do Estado: Editora Universidade de Brasília. Capítulo V, “A Crítica Realista”, de Edward H. Carr.




Edward Carr ressalta em seu capítulo V, “A Crítica Realista”, que o realismo entrou em cena bem depois da utopia e que veio justamente para reagir contra ela. O autor já havia apontado para a importância do Tratado de Paz de Westfalia e, posteriormente, a fundação da Sociedade Internacional Moderna. Dividia-se, então, o poder da Igreja, para que pudesse surgir a hegemonia dos Estados. É o ponto de partida para a assunção da hegemonia do pensamento realista no panorama mundial, na política internacional, mesmo que o idealismo tenha permanecido de pé até fins da Segunda Guerra Mundial.

Os princípios da doutrina de Maquiavel foram essenciais para a filosofia realista. São destacados os seguintes aspectos: a história como conseqüência de causa e efeito – compreensão não abstrata, mas sim com sério estudo e esforço intelectual; a teoria não é capaz de criar a prática, mas a prática cria a teoria, diferentemente dos utópicos e, por fim; a política, ainda diferentemente dos utópicos, não é uma função da ética, mas a ética é função da política (os homens são honestos por meio da coação).

Frente às mudanças do século XVIII, o que chamava a atenção era o fato de que tanto a utopia quanto o realismo incorporaram em sua filosofia a crença no progresso a ponto de haver um paradoxo – realismo, aparentemente mais progressista do que o ideário utópico, que consistia na crença de um padrão ético absoluto.

Quanto à causalidade na história, “ela é tão velha quanto a própria história” (p.88). Com a substituição da Providência Divina pela razão, filósofos como Hegel foram permitidos a criar, de forma inédita, uma filosofia que se baseia em conceber um processo histórico racional. E, tratando do ponto de vista histórico, a história em si só poderá ser julgada por padrões históricos. O pensador realista está apto a mostrar que as teorias intelectuais dos utópicos são historicamente condicionadas, portanto limitadas. 

Uns e outros pensadores trabalhavam o modo dos interesses individuais e nacionais, contribuindo para o arcabouço intelectual à disposição das pesquisas. Houve a necessidade de se ajustar o pensamento de forma objetiva, à parte e de maneira científica, tendo em vista que a filosofia é feita por “mortais” e, portanto, é feita por humanos, como nós.

O pensador realista deve expor, por exemplo, que a defesa que os estadistas fazem, a de que a política deduz de princípios éticos e não os princípios éticos deduzem da política, é falsa. Isso incita a um choque de idéias sobre ética – entre aquela do pensador realista e a dos estadistas que pretendem demonstrar uma visão idealista.

É defendida a idéia de que as teorias da moral são oriundas sempre de um grupo dominante, cujas facilidades são negadas aos grupos que são subordinados. Com isso, as teorias da moral internacional também seriam oriundas das nações dominantes. No texto, há também a crítica da harmonia de interesses feita pelos realistas. Essa harmonia, chamada como doutrina, serviria como um artifício moral por parte dos grupos dominantes, para que eles possam manter sua posição de influência. 

A defesa acima é apontada politicamente como uma “comunhão de interesses” pela manutenção da paz, “capitalizada da mesma forma por uma nação ou grupo de nações dominantes” (p. 180). Como exemplo, Carr ressalta o imperialismo romano e britânico disfarçada sobre a Pax Romana e a Pax Britânica. Seria como amenizar os interesses de supremacia, por meio de uma propaganda, se assim se pode dizer, de manutenção e divulgação de paz.

Dentro da harmonia de interesses, cabe expor, ultimamente, a crítica (realista) do internacionalismo, que seria uma forma peculiar da doutrina da harmonia de interesses. O autor define como local e período do início do internacionalismo moderno a França dos séculos XVII e XVIII, com a hegemonia francesa no auge.

Sempre os estados dominantes destacaram-se em suas propagandas de solidariedade internacional, em prol do controle de uma nação. Carr ressalta que esse desejo de solidariedade internacional envolve a esperança dos estados dominantes em controlar um mundo unificado. Convém também mostrar que o autor afirma que bases reais de princípios “declaradamente abstratos” – usados na política internacional põem em xeque a utopia, e convence ainda mais a condenação que o realismo faz daquela.

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